domingo, 10 de agosto de 2008

(Nolan:)

É, eu dei um tapa no Lorenzo.
Num posso dizer que foi sem querer, mas era pra ser um tapinha e não um tapão.
Aí ele levantou e saiu, eu fui atrás dele, pedi desculpas decentemente e ele voltou.
Eu fiquei com raiva, mas não tenho o direito de bater em ninguém;
E, realmente, me arrependo de ter batido nele.

Hoje é dia dos pais.
O Meu morreu.
Minha mente bloqueou todas as lembranças sobre ele.
Ou seja, dos 5 anos pra trás eu não lembro de nada, e se não fossem as fotos eu nem saberia qual a cara dele.

Então hoje contarei da minha infância, as partes que eu lembro.
Porque eu era (e sou) pobre.
E eu e Wendy achamos minha infância pobre muito engraçada.

Tudo começou com a nossa conversa sobre aqueles sprays pra cabelo, que deixavam o cabelo colorido.
Brega.
Ninguém que pense usaria aquilo.

Eu adorava.

Então...
Eu morava em São Gonçalo.
Nada contra São Gonçalo, mas só pela cidade dá pra ter uma noção das condições de vida.

Morava entre dois morros, de facções diferentes.
Uma vez um morro invadiu o outro, e expulsou os moradores.
Tudo de muito bom gosto.

Como eu só morei lá até os 10 anos, não tive convivência nenhuma com essa parte podre da cidade.
Eu morava feliz dentro do condomínio, e achava que a vida era aquilo ali, mesmo. E era ótimo.
Pobreza não é sinonimo de infelicidade, definitivamente.

Minha cama (um beliche, que era dividido com minha irmã mais velha) era feito sob encomenda pra poder caber no quarto, que era realmente minúsculo.

Havia um quitandinha (sim, tinha uma placa escrito "Quitandinha" nela), que era onde comprávamos doces.
Éramos muitas crianças então conseguíamos um dinherinho.

Tentamos (eu e minha irmã) vender doces uma vez, mas morávamos no quinto andar, e não havia elevador.
Ninguém ia lá comprar.
Comemos tudo.

Sem contar minha busca desesperada por um óculos com a lente colorida, como era moda na época.

Pra nós, até um óculos de lentes coloridas, de 5 reais, era algo maravilhoso.

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A Wendy, esses dias, estava me contando sobre a infância dela, com todos os brinquedos caríssimos.
Eu tinha, quando criança, um brinquedo.
Um palhaço feito com um travesseiro.
O Lhalhaço.
Que foi passado da minha prima pra minha irmã, e da minha irmã pra mim, e de mim pra minha outra irmã.
Não o mesmo, mas clones do original, que foi se desfazendo com o tempo.

Eu tinha muitos amigos, mais do que muitas crianças riquinhas.
Pobres são muito mais sociaveis e divertidos.

Eu sempre fui muito afeminado, e é normal que crianças sofram preconceito nessa situação, principalmente morando em um lugar como o que eu morava, entre favelas.
Mas, curiosamente, eu não me lembro desse sofrimento.
Não me lembro de grandes desgraças e de eu querer me matar.
Acho que isso não aconteceu. Não sei.

Éramos todos crianças cheias de problemas. Mas éramos TÃO felizes.
Tinha quem o pai batesse na mãe.
Tinha quem a mãe fosse prostituta.
Tinha quem a mãe fosse louca.
Tinha quem não tivesse mãe.
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É, não ficou engraçado.

Mas foi a fase mais feliz da minha vida.
Naquela época, eu não me olhava no espelho de tempos em tempos só pra dizer "Essa não é uma boa fase pra mim."

As fases nunca eram ruins.
E não pareciam que iam acabar.

Mas acabaram.

E agora a vida é mais difícil.
Menos pobre e mais difícil;

Acho que é mais fácil não ter nada a perder.

"Bom, pode ser que nunca seja ou tenha um marido
Pode ser que nunca tenha ou segure um filho
Você aprenderá como é perder tudo
Nós somos acordos temporários"

2 comentários:

Barbara D. disse...

.Curioso pensar, porque eu também tive umas fases tensas, mas não me lembro de muitas na infânia em sí. Só a partir dos 11 anos, quando pessoas que eu gostava foram morrendo, e não foi uma fase legal. Fora isso, fui uma criança feliz.

Meu lado criança continua sendo feliz. Isso basta?

Só me restam as taras. disse...

essa é minha resposta wendyesca...o post é do nolan,e é ele que deve te responder,acho.mas lá vai:
"não basta.encha a cara e deixe todos os lados felizes.ficadica"
=*